Em seu primeiro discurso ao clero romano, Leão XIV destacou a importância da comunhão, do testemunho fiel e do olhar profético diante dos desafios
Da Redação, com Vatican News

Papa durante audiência com o clero de Roma /Foto: Vatican Media/IPA via ZUMA Press
Na manhã desta quinta-feira, 12, o Papa Leão XIV encontrou-se com cerca de dois mil clérigos da Diocese de Roma, na Sala Paulo VI, no Vaticano. O Pontífice, que é também o bispo desta Igreja particular, dirigiu-se com afeto aos sacerdotes e diáconos presentes, convidando-os a renovar sua unidade, exemplo de vida e compromisso profético diante dos desafios da cidade e do mundo. O encontro teve início com uma saudação do vigário do Santo Padre para a diocese, Cardeal Baldassare Reina.
“Queridos presbíteros e diáconos que desempenham seu serviço na Diocese de Roma, saúdo a todos com afeto e amizade!”, disse o Papa Leão XIV no início de seu discurso. O Santo Padre também manifestou o desejo de conhecer de perto os sacerdotes da diocese e iniciar com eles um caminho de comunhão: “Agradeço pela vossa vida doada ao serviço do Reino, pelo esforço cotidiano, pela generosidade no exercício do ministério, por tudo aquilo que vivem no silêncio e que, às vezes, é acompanhado pelo sofrimento ou pela incompreensão.”
“Vigilantes contra o isolamento”
O primeiro aspecto que Leão XIV destacou foi a importância da comunhão. O Papa lembrou que a Diocese de Roma preside toda a missão da Igreja na caridade e na comunhão, e isso só é possível graças aos sacerdotes, ao vínculo de graça com o bispo e à fecunda corresponsabilidade com todo o povo de Deus. Em seguida, o Pontífice reconheceu os desafios que ameaçam a comunhão entre os presbíteros:
“Hoje, essa comunhão é dificultada por um clima cultural que favorece o isolamento e a autorreferencialidade. Nenhum de nós está isento dessas armadilhas que ameaçam a solidez da nossa vida espiritual e a força do nosso ministério.”
O Papa também alertou para obstáculos internos à vida eclesial: “Especialmente aquele sentimento de cansaço que chega porque vivemos fadigas particulares, porque não nos sentimos compreendidos ou escutados, ou por outros motivos.” Diante disso, fez um apelo: “Gostaria de ajudá-los, caminhar com vocês, para que cada um recupere a serenidade no próprio ministério; mas, justamente por isso, lhes peço um impulso na fraternidade presbiteral, que tem raízes numa vida espiritual sólida, no encontro com o Senhor e na escuta da sua Palavra.”
Fidelidade e testemunho
Leão XIV reforçou que o sacerdote é chamado a ser testemunha de uma vida coerente e transparente. “Peço com o coração de pai e pastor: empenhemo-nos todos em sermos sacerdotes credíveis e exemplares! Recebemos uma graça extraordinária, foi-nos confiado um tesouro precioso do qual somos ministros, servos. E ao servo se pede fidelidade”, disse.
O Papa falou ainda do risco de se deixar seduzir pelo mundo e suas propostas: “A cidade, com suas mil ofertas, pode também nos afastar do desejo de uma vida santa, induzindo a um rebaixamento onde se perdem os valores profundos de ser presbítero.” Convidou, então, os presentes a recordar a força do chamado inicial: “Deixem-se atrair novamente pelo chamado do Mestre, para sentir e viver o amor da primeira hora, aquele que os levou a fazer escolhas fortes e renúncias corajosas.”
Profecia diante dos desafios do presente
O terceiro eixo do discurso do Pontífice foi o olhar profético sobre os desafios contemporâneos. O Santo Padre reconheceu o sofrimento causado pelas injustiças, violências e marginalizações: “Nos ferem as violências que geram morte, nos interpelam as desigualdades, as pobrezas, tantas formas de exclusão social, o sofrimento difundido que assume traços de um mal-estar que já não poupa ninguém.”
Recordando a realidade da capital italiana, o Papa citou seu predecessor: “Como notava o Papa Francisco, à ‘grande beleza’ e ao fascínio da arte deve corresponder também ‘o simples decoro e a normal funcionalidade nos lugares e nas situações da vida ordinária, cotidiana’.” Leão XIV sublinhou também o chamado a não fugir dos desafios, mas a enfrentá-los à luz do Evangelho: “Esses desafios somos chamados a abraçá-los, a interpretá-los evangelicamente, a vivê-los como ocasiões de testemunho. Não fujamos diante deles!”
“Amem esta Igreja, sejam esta Igreja”
Ao final de seu discurso, o Pontífice garantiu sua proximidade e encorajou o clero romano a crescer em unidade, exemplaridade e compromisso profético: “Queridos, asseguro minha proximidade, meu afeto e minha disponibilidade para caminhar com vocês”, e concluiu com uma citação de Santo Agostinho:
“Amem esta Igreja, permaneçam nesta Igreja, sejam esta Igreja. Amem o bom Pastor, o Esposo belíssimo, que não engana ninguém e não quer que ninguém se perca. Rezem também pelas ovelhas desgarradas: que também elas venham, também elas reconheçam, também elas amem, para que haja um só rebanho e um só pastor”.
Reportagem do vídeo acima de Danúbia Gleisser e Daniele Santos